


Shakespeare
chegou...

Quando Guilherme Vidal resolveu trazer uma adaptação do Hamlet de William Shakespeare para estudo e posterior criação, o nosso trabalho enquanto grupo de teatro teve que sentir uma alteração de rotas.
Precisaríamos de mais tempo de ensaio, maior dedicação de cada ator e um trabalho ímpar de pesquisa, pois o que nos interessava era o Humor em Hamlet sem desprezar toda a tragédia em que o príncipe da Dinamarca estava envolvido. O tempo ficaria um pouco mais escasso. Isso posto, alguns atores decidiram não ficar na Cia e se foram. Foi um período doloroso de partidas. Aquele grupo de 14 atores foi diminuindo seus ares.
A vida é assim. Hamlet é assim. A vida do ator é assim.
Entramos em sala de ensaio com sete atores e ficaram cinco, os quais estrearam. Para a segunda temporada chamamos dois atores convidados: Fabiano Cruz e Leonardo Tadeu.
Assim, exploramos estéticas do humor na pesquisa para encontrar o Humor em Hamlet.
Levamos ao extremo cada um dos gêneros escolhidos em ensaios propositivos de argumentos criados a partir do texto: a cena da aparição do fantasma do rei extrai o máximo do terror, gênero difícil de trabalhar no teatro, muitas vezes com o perigo de deslanchar para o “terrir”. A sequência em que Hamlet tortura a rainha em seu quarto era um dramalhão. A cena do cortejo fúnebre de Ofélia é um musical à La Brecht e Weill com os atores cantando. Era um evento trágico-cômico, recheado de gargalhadas. "Nossos ensaios aconteciam as segundas-feiras a noite no Aurora 21, o apartamento de Guilherme transformado em Studio. Nossos ensaios eram recheados de gargalhadas de nós mesmos", já dizia Renato Lembo, ator da Cia.
Abrimos espaço para gêneros mal interpretados aqui no Brasil e tangenciados por preconceitos, como a comédia trash, o transformismo e a dublagem como ilustração e técnica teatral. "Lembro-me que perder o medo do ridículo era uma premissa de Vidal", diz Dimi Calazans, ator da Cia.
Dois pontos importantes nos ajudaram a formular características próprias da montagem:
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A utilização do recurso coringa pelos atores. Todos trafegam por vários personagens. Os atores nunca deixam de ser os atores em cena, por vezes criticando os personagens.
2. Cenas descritas no texto original, tomam vida em nossa montagem.
Outra questão que nos preocupou foi a duração da peça.
Como não era nossa pretensão encenar o texto completo e original de Shakespeare e tínhamos como objetivo iniciar um público na dramaturgia do autor, então eliminamos muitas sequências, muitos monólogos, sem tirar a essência da peça. Era uma adaptação do Poeta William Shakespeare.
Essa montagem foi um divisor de águas dentro da Cia. Em sua primeira versão apresentada no Viga Espaço Cênico, um local amplamente gostoso para se passar a ação de Hamlet, teve abertura do Projeto Faladera (um duo de música intencionalmente interessante com voz de Juliana Ladeira e Daniel Moretti) e a exposição de Três Artistas plásticos incríveis - Antonio Gopper, Nina Kreis e Sergio Kal
sobre Hamlet. O desenho das ecobags expostas acima é assinatura deles.
A montagem, com exceção das questões políticas envolvendo Dinamarca e Noruega, mostra toda a história de Hamlet, e passa aos olhos do público como um trem veloz, o Expresso Hamlet.
Algum tempo depois, remontamos Expresso Hamlet, que passou a se chamar Expresso Hamlet Reloaded, agora com atores convidados. Foi um desbunde geral, recorde de público e uma delícia de envolver a plateia no espetáculo. Ficamos imensamente orgulhosos.
Em 2016, na transição de Expresso Hamlet Reloaded para a ideia inicial de The Tweety girls - elas chegaram ao sucesso, nosso mestre teve uma morte repentina e nos deixou com tantos ensinamentos e saudades enormes. Foi um período muito difícil para a Cia. Cafonas & Bokomokos.
Expresso Hamlet reestreou um ano após a partida de Guilherme em uma nova versão, já com os atores Robson Alex Pinto e José Thomaz como integrantes da companhia. Direção de Dimi Calazans e o outro ator.
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Nosso inesquecível
Guilherme
Vidal.


Guilherme Vidal foi um verdadeiro ícone do Teatro Humor, dedicando sua vida à sua arte e compartilhando seu amor pelo Teatro com o públicoe com os atores.
Seus textos bem-humorados, interpretados por seus atores, levaram sorrisos e reflexões a todos que tiveram o privilégio de assisti-los.
Gui não representa a tristeza; pelo contrário sua paixão pelo humor reflete um senso crítico aguçado, onde o riso se torna uma ferramenta poderosa para transmitir emoções e promover a tolerância.
Seu legado nos lembrará riso e da leveza na sua obra.
Eternamente Gui Vidal.
Após a morte de Guilherme Vidal, Edgar Suzuki e Mariana Vidal, sua sobrinha, reuniram-se para lançar uma coletânea de alguns textos de Guilherme, desde a época do Canastrões e Canastrices, espetáculo que ele dirigiu nos anos 80 e que levou milhares de pessoas a conhecer o humor que ele tanto amava. Foi um desbunde geral esse espetáculo.
O livro teve lançamento na Livraria Martins Fontes, em São Paulo e traz textos, fotos e mensagens de muitos dos atores e artistas de seu convivío. Chama-se Siga-me!. em homenagem ao seu texto teatral Siga-me, outro grande sucesso de bilheteria dos Cafonas & Bokomokos.
Não podemos deixar de pensar em Madame Kuty, nossa mestra de figurinos que tanto nos ajudou e mãe de Guilherme. Sua passagem foi muito sentida e veio meses depois da partida de seu filho.
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